27 fevereiro, 2007

Sobre o Oscar

Diferente da maioria das pessoas, gosto de assistir à cerimônia de entrega dos Oscars. Ela é sempre longa e cheia de momentos aborrecidos, mesmo assim me divirto. Há sempre momentos que valem à pena, este ano não houve muitos, contudo.

Foi bacana e caprichado os números de luz e sombra representando os filmes.

O discurso do fotografo (me parece que ele é argentino) de “O Labirinto do Fauno” (bom ver a consagração do filme com três prêmios) foi emocionado e valeu, embora torcesse por “Filhos da Esperança”.

Muito bonitinha a Abigail Breslin de “Pequena Miss Sunshine” na platéia.

Gostei de Alan Arkins ter levado e não Eddie Murphy como se esperava.

Tocante o momento em que a montadora Thelma Schoonmaker foi receber o prêmio por “Os Infiltrados” e da platéia vimos Martin Scorsese em lágrimas.

O discurso do Forest Whittaker sobre a arte do ator foi bonito, embora piegas ao remeter à sua infância.

Enio Morricone, um monstro da Trilha Sonora (“The good, the Bad, the Ugly” é impagável, servindo até de abertura para os shows dos Ramones), premiado pelo conjunto da obra, discursou em italiano, muito legal!

Há um tempo venho notando que os filmes que levam os prêmios de roteiro (original, adaptado), são de fato os filmes mais interessantes do ano (nem sempre são os que levam melhor filme). Com isso foi ótima a conquista de roteiro original pelo inteligente, tocante e engraçado “Pequena Miss Sunshine”. Já em roteiro adaptado me decepcionei com a premiação de “Os Infiltrados” que primeiro: viria a ganhar também melhor filme, e segundo: foi adaptado de um outro roteiro o que parece tarefa mais simples que adaptar um livro ou peça. Preferia ter visto “Filhos da Esperança” ou “Pecados Íntimos” saindo com o Oscar.

Por fim três figuras icônicas do cinema norte-americano (Coppola, Lucas, Spielberg) entregando o Oscar para Scorsese (para mim o melhor). E a Diane Keaton ao lado do careca Jack Nicholson (será que ele vai entregar melhor filme todo ano agora) consagrando “Os Infiltrados”, meu preferido dentre os cinco, junto de “Pequena Miss Sunshine”, que na verdade não tinha banca para levar o prêmio.

09 fevereiro, 2007

Quando secar o rio da minha infância

secará toda dor.

Quando os regatos límpidos de meu ser secarem

minh'alma perderá sua força.

Buscarei, então, pastagens distantes

– lá onde o ódio não tem teto para repousar.

Ali erguerei uma tenda junto aos bosques.

Todas as tardes me deitarei na relva

e nos dias silenciosos farei minha oração.

Meu eterno canto de amor:

expressão pura de minha mais profunda angústia.


Nos dias primaveris, colherei flores

para meu jardim da saudade.

Assim, exterminarei a lembrança de um passado sombrio."

Frei Tito – Paris, 12 de outubro de 1972

malvados

02 fevereiro, 2007

Sobre Tiradentes

Não. Não boicotei a 10ª. Mostra de Cinema de Tiradentes. Fui até lá, fiz uma oficina com Joel Pizzini, que foi muitíssimo válida. Ele é um profissional e tanto, tem um ótimo trabalho, muito sensível e peculiar, subvertendo o documentário tradicional. Uma oficina tão boa quanto a que fiz ano passado – Roteiro, com Di Moretti. Bom saber que o Brasil tem bons profissionais, ainda desconhecidos e mal pagos.

A Mostra de vídeos foi bastante irregular, a bloco de ficção que vi foi bem fraco, parecia querer abarcar realizadores de diversos estados, resultando confusa e mal programada. Os blocos de vídeos experimentais são bem difíceis para o público geral, e foi quando mais vimos produções de Minas.

Pela primeira vez foi permitida a exibição de longas-metragens finalizados em vídeo, o que é bom, mas abre espaço para produções um tanto herméticas para um Mostra de caráter popular com a de Tiradentes. “Cartola” foi exibido em BetaCam, com sérios problemas de áudio, o que levou o documentário a ser re-exibido em horário alternativo.

O Cine-Praça só aconteceu no meu último dia lá, com a exibição de “Antônia”, e pelo que sei a chuva só permitiu, antes, a projeção do vencedor do júri popular “Noel, o Poeta da Vila”. Outro ponto negativo foi a cerimônia que pretendia homenagear os artistas da década. Foi, segundo li, um evento longo e constrangedor, que igualou os artistas homenageados a políticos e patrocinadores, os verdadeiros bajulados pela produção.

O ponto alto ficou mesmo por conta de “Batismo de Sangue”. Desde o bate-papo antes da exibição, ficou clara a importância histórica, humana, artística do filme. A presença e os depoimentos dos Freis e de parte do elenco e equipe foram tocantes. Na sessão lotada o público foi contemplado com um filme belo, correto e transformador. Acredito que um filme – como toda obra de arte – só pode ser tocante e transformador na medida em que o artista que o executa seja transformado no processo. O que é patente nesta obra.