30 junho, 2014

sobre memórias

"Costumo me surpreender com a minha facilidade em me perder facilmente em uma memória da minha infância, a ponto de até perder temporariamente a conexão com o presente. Ao mesmo tempo, ainda vivem dentro de mim as falsas memórias que criava, quando criança, de como poderia ser a minha vida como adulto; parecia absolutamente impossível que eu iria crescer, me tornar um homem e até ser pai, assim como hoje parece cada vez mais impossível que eu já tenha sido uma criança. Um das razões pelas quais acho que nos sentimos compelidos a contar e recontar histórias sobre nós mesmo é que nossas memórias tornam-se simplesmente cada vez menos críveis a medida que envelhecemos: como elas são dependentes de linguagens, parecem secar com o tempo. É quase como se estivéssemos reidratando-as a cada vez que as contamos."



Chris Ware
Genial quadrinista americano, autor de Jimmy Corrigan e Building Stories



12 junho, 2014

Pequenas Lembranças #14

Se enamora

Desde quando consigo me lembrar sempre houve uma menina de quem eu gostasse. Na pré-escola, eu tinha uma namoradinha, já não lembro seu nome. Algo me diz que era Isabela. Tem uma foto perdida por aí, nós dois caracterizados de caipiras na festa junina do Sorvetinho. Eu falava que ela era minha namorada, e que ela ainda tinha outros. O discurso machista dizia; era você que devia ter várias namoradas. A situação não me incomodava. 

E fui assim, pulando de paixão em paixão. Houve Letícia, houve Paula, houve Bárbara e outras cujos nomes esqueci. Nem dos rostos me recordo mais. Eram paixonites, basicamente estéticas, não tinha nada, ou quase nada de sexual. Fica feito bobo admirando as pequenas musas. Gostava de vê-las andando, falando, rindo, me encantava seu cheiro, sua voz.

Estas paixões, sempre foram platônicas. Nunca agi, nunca me declarei. Vivia-as intensamente até que se esvaíam. E num belo dia, como um raio, a visão de outra menina reacendia algo no menino tímido que eu era. 

Muitas vezes a simples ideia de ver a menina da vez era motivo bastante para me animar a levantar e ir para o colégio. Certa vez fomos em família para a praça da Assembleia. Eu, mais velho que meus irmãos, e sempre muito caseiro, não estava muito interessado no passeio. Contudo, chegando lá, para minha surpresa avistei 'ela' com sua irmãzinha, e o passeio se tornou bem mais interessante. 

Custou anos de amadurecimento para descobrir o amor verdadeiro, que já não é só uma pequena lembrança.