04 julho, 2006

Muro

De um só impulso chegou no topo do muro. Ficou ali em pose de bailarino por três segundos. E com uma perna apenas saltou para o outro lado. Caiu fazendo logo três rolamentos laterais e pondo-se prontamente de pé. E passou a andar calmamente, como quem passeia no parque. Só a uns trezentos metro dali, espanou com a mão a terra que tinha nas roupas. E daí a alguns segundos começou a chorar. Não emitia um som, mas muita lágrima vertia de seus olhos. Encharcou as mangas da camiseta enxugando do rosto o suor e as lágrimas. Cessou o pranto. Diminuiu o passo. Olhou para o céu, e sorriu. “Meu pai deveria estar aqui”, pensou. Quando chegou no lago já não pensava em nada. Livrou-se das roupas, e atirou-se nas águas negras e geladas, agitando-as como há muito tempo não sucedia. Secou-se a sol, deitado na grama. Vestiu-se e seguiu caminho. Com os longos e anelados cabelos ainda molhados chegou num vilarejo cheio de casas rústicas todas amarelas de telhado marrom-avermelhado. Estava perdido, girava em torno de seu próprio eixo sem saber para onde seguir. Até que no meios das dezenas de casinhas distinguiu uma, que levava ao lado da porta o numero 135 pintado de tinta verde. Correu até ela, bateu na porta. Esperou inquieto. Abriu uma senhora de cabelos cacheados cor de prata. Abraçou-a num repente, e deixou-se ficar em seus braços longos segundos. Nunca mais voltou para o lado de lá e finalmente foi feliz.


Leonardo de Oliveira Cunha

22 de março de 2006