19 setembro, 2011

Promessa a ela

Disseram a ela que podia ser deus. Não acreditou. Não acreditando teve certeza. Como poderia ser um deus sem fé? Todavia aquilo ficou na sua cabeça de criança serelepe. Veio a adolescência, e as preocupações mundanas e os mergulhos depressivos no seu próprio ser a afastaram da promessa infantil. Foi uma adolescente normal nas suas esquisitices. Não quis do mundo mais do que o mundo lhe oferecia. Na juventude foi questionadora, o lugar-comum a desinteressava sobremaneira. Mudava. Era alguém novo, era alguém de novo. Cansada de mudar ou de apenas tentar, parou e pensou, Bem que eu podia ser deus. Numa fração de segundo lembrou do que lhe haviam dito na infância, e de que tinha se esquecido havia muito. Mas quem mo disse? A lembrança era vaga, obscura, ou melhor ofuscada por uma luz diáfana. Foi quando se descobriu grávida e por quarenta semanas gerou um ser, o pariu e o alimentou. Sentiu-se então deus, pois criara vida. E foi intensa, e feliz, na maior parte do tempo. Muitos anos depois, já bem idosa, disse a sua neta, criança serelepe; você pode ser deus. Daí se lembrou.

Leonardo OCunha



escrito em dois tempos.