09 julho, 2009

“família de espírito” de Saramago

“Em primeiro lugar Camões porque todos os caminhos portugueses a ele vão dar. Seguiam-se depois o Padre António Vieira, porque a língua portuguesa nunca foi mais bela que quando a escreveu esse jesuíta, Cervantes, porque sem o autor do Quixote a Península Ibérica seria uma casa sem telhado, Montaigne, porque não precisou de Freud para saber quem era, Voltaire, porque perdeu as ilusões sobre a humanidade e sobreviveu ao desgosto, Raul Brandão, porque não é necessário ser um génio para escrever um livro genial, o Húmus, Fernando Pessoa, porque a porta por onde se chega a ele é a porta por onde se chega a Portugal (já tínhamos Camões, mas ainda nos faltava um Pessoa), Kafka, porque demonstrou que o homem é um coleóptero, Eça de Queiroz, porque ensinou a ironia aos portugueses, Jorge Luis Borges, porque inventou a literatura virtual, e, finalmente, Gogol, porque contemplou a vida humana e achou-a triste.”

Na minha genealogia entra Machado de Assis, entra Nelson Rodrigues, Jorge Amado, García Márquez, e claro José Saramago.


Update: Atendendo ao pedido do LEo. Colo o que escrevi num trabalho do mestrado:

the conciseness and intensity of Nelson Rodrigues; the criticism and elegance of José Saramago; the imagery and light-heartedness of Gabriel García Márquez.

E acrescento que Machado é a quintessência da nossa literatura, retrato de um Brasil ainda incipiente e do ser humano atemporal.

Sobre Jorge Amado recorro novamente ao José Saramago:
"Durante muitos anos Jorge Amado quis e soube ser a voz, o sentido e a alegria do Brasil. Poucas vezes um escritor terá conseguido tornar-se, tanto como ele, o espelho e o retrato de um povo inteiro. Uma parte importante do mundo leitor estrangeiro começou a conhecer o Brasil quando começou a ler Jorge Amado. E para muita gente foi uma surpresa descobrir nos livros de Jorge Amado, com a mais transparente das evidências, a complexa heterogeneidade, não só racial, mas cultural da sociedade brasileira."

Pena que hoje só haja Paulo Coelho "representando" nossa literatura nas prateleiras mundo afora.

Um comentário:

LEo disse...

agora tem que falar os motivos também... rss :P