15 agosto, 2007

Pequenas Lembranças #7

Furos

Um dia chegou no apartamento da rua Amparo um ser pequeno e careca. Era o terceiro deste tipo. Desta vez mais magro, de choro mais estridente, desta vez menina. Passaram pouquíssimos dias de sua chegada, talvez nem um completo, e entrou uma enfermeira no quarto de meus pais, onde ficava o bebê. Haviam me adiantado o que iria acontecer, fiquei de espreita na sala adjacente e de lá ouvi o choro e os dois estampidos secos que furaram os lóbulos da minha irmã, a quem chamaria Dedeza, Dedê, Pitinina, e hoje simplesmente Andreza. Saiu do quarto com um brinquinho de ouro com, salvo engano, uma pequena pérola, em cada orelha.

Por mais que me dissessem que não doía, me causava espanto que fizessem algo tão bruto a um ser tão pequenino e frágil.

Nenhum comentário: