04 junho, 2007

Pequenas Lembranças #1

Choro

Não sei precisar qual é minha lembrança mais antiga. No correr dos anos acabamos por recordar, com certa acuidade, de fatos banais, sem, contudo, guardarmos registros de eventos julgados importantes.

Obviamente, não me lembro do meu nascimento, nem de meus primeiríssimos anos neste mundo. Todavia, sempre fez parte de minha vida os relatos deste período, em que eu, sem explicação definitiva, chorei como poucas crianças o fizeram.

Nasci num dia 13 de maio, uma quarta-feira, às 15:50, depois de fazer minha mãe sofrer em demorado trabalho de parto. Foi no Hospital São Lucas, na região hospitalar de Belo Horizonte. Minha primeira residência foi num apartamento de três quartos na Rua Amparo (belo nome), foi pra lá que fui e lá que chorei todas as noites por anos (!) a fio.

No primeiro mês, esteve em nossa casa, minha avó materna, que vive no interior. Cabe dizer que sou o primogênito, assim como meu pai e minha mãe, sou então o primeiro neto de ambos os lados da família. Ao cabo do mês de assistência, retornando para Divinópolis, chorava minha vó, choravam minha mãe e meu pai, e claro chorava eu.

Uma noite estava eu quieto no bercinho ao lado da cama de meus pais. Tamanha a estranheza da situação que minha mãe ficou desconfiada. Receosa de que algo trágico houvera sucedido pediu a meu pai que verificasse se estava tudo bem com o pequeno ser. Pois no escuro do quarto e no torpor do sono, meu progenitor dá uma topada com o pé no pequeno berço, pondo-me a chorar até o raiar do dia.

Muitos casos ainda constam de meus choros intermináveis e inexplicáveis. E nos anos seguintes, cada nova pessoa que entrava em nossa vida, tinha por obrigação de ouvir as histórias, que pareciam inverossímeis, de um bebê inquieto que se convertera em uma criança tão calma. Reza a lenda que só parei de chorar quando comecei a freqüentar o jardim de infância.

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