11 dezembro, 2006

Subúrbio, por Chico Buarque

Lá não figura no mapa. No avesso da montanha, é labirinto, é contra-senha, é cara a tapa.
Casas sem cor. Ruas de pó, cidade que não se pinta, que é sem vaidade.
Lá não tem moças douradas expostas, andam nus pelas quebradas teus exus.
Não tem turistas. Não sai foto nas revistas.
Lá tem Jesus. E está de costas!


Espalha a tua voz nos arredores, carrega a tua cruz e os teus tambores. Vai, faz ouvir os acordes do choro-canção. Traz as cabrochas e a roda de samba. Dança teu funk, o rock, forró, pagode, reggae, teu hip-hop, fala na língua do rap.
Fala no pé, dá uma idéia naquela que te sombreia.
Desbanca a outra, a tal que abusa de ser tão maravilhosa.

Lá não tem claro-escuro, a luz é dura, a chapa é quente.
Que futuro tem aquela gente toda?
Perdido em ti eu ando em roda.
É pau, é pedra, é fim de linha.
É lenha, é fogo, é foda!

Nenhum comentário: